quarta-feira, 24 de março de 2010

Quem não arrisca, pestisca?

POR THAÍS MACEDO


Trocar o certo pelo duvidoso. Taí uma atitude para corajosos. Mas a dúvida é: porque cada vez temos menos coragem de tomar decisões, que sabemos serem necessárias, mas que, de alguma maneira, nos colocam em situações de risco?

Ás vezes a gente sabe que deve tomar uma decisão e fica protelando na esperança de que o destino resolva sozinho. E depois, se algo dá errado dizemos “ah mas não foi minha culpa”. Taí o X da questão: a culpa. Ninguém quer ser o culpado da própria desgraça.

Se algo dá errado queremos culpar alguém, nem que esse alguém seja o destino, os outros, até Deus. É difícil bater no peito e dizer: fiz a escolha errada. E o medo de errar e, consequentemente, de sermos os culpados das nossas falhas, nos paralisa. Mas as coisas podem dar certo. A mudança pode ser boa. Se o risco é alto, invariavelmente a recompensa também é.

Preferimos sempre viver sãos e salvos, no nosso cercadinho da certeza do que nos arriscarmos no desconhecido. Com isso perdemos. Sim, perdemos muito. Porque ficar parado não deixa de ser uma atitude. E a culpa continua sendo nossa.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Windows Media Player

POR ANTÔNIO PRATA

Alguém já disse, num arroubo de nostalgia, que “a televisão matou a janela”. Não poderia estar mais enganado. Aqui no meu quarteirão, pelo menos, TVs e fenestras não são atividades excludentes, mas duas peças complementares num curioso fenômeno sócio-esportivo: o insulto inter-condominial.

Acontece em dias e noites de jogos e funciona da seguinte maneira: o Corinthians, digamos, faz um gol no Palmeiras; imediatamente, os torcedores do Timão correm até suas janelas e gritam, com vozes de barítonos, que em outros tempos os levariam à ópera, ao comando de exércitos ou boiadas: “chuuuuuuupa porco imundo!!!”, “Tooooma porcaiada!!!”, “Choooooora parrrrmêra!”.

Como numa batalha de trincheiras, os palmeirenses esperam, encolhidos, acabar a munição corintiana. Então escancaram os pulmões e as persianas, no contra-ataque: “cala a booooooca maloqueiro!”, “Silêncio gambáááá!”, “Nem estádios cês têm, ô #%^*&!!!!”.

Os insultos ricocheteiam no concreto, ecoam pelos corredores de ar entre os prédios do quarteirão e atingem, numa estimativa cautelosa, mais de mil pessoas. O leitor acha que estou reclamando? Muito pelo contrário. Alguém já disse, num arroubo de otimismo, que “quando uma enorme onda aproxima-se da praia, há os que fogem, os que ficam parados esperando e os que correm para surfá-la”. Não poderia estar mais certo. Proponho surfar essas ondas sonoras, fazendo do insulto inter-condominial uma nova mídia publicitária.

Os profissionais da propaganda quebram a cabeça para conseguir atingir públicos específicos. Criam programas de televisão, shows, passam noites em claro bolando vídeos para jogar no youtube e acendem velas para São Viralito, o padroeiro dos hits espontâneos, rezando para que algum deles emplaque. E o que eu tenho aqui, diante de minha janela? Uma pequena multidão de um dos nichos mais disputados: homens de 16 a 25 anos, classe AA, todos de ouvidos abertos, só esperando para escutar o nome do patrocinador que me procurar no e-mail aí em cima e enviar um cheque no valor a combinar.
Entre um “chuuuupa porcada!” e um “cala a boca, gambá!”, eu viria com “Notoriuns vídeo, a locadora das Perdizes!” ou “Cerveja Riopretana, a melhor das artesanais!”. Topo, até mesmo, fazer campanha política. Quando for gol do Palmeiras, grito “Serra!”. Gol do Corinthians, berro “Lula é Timão! Lula é Dilma!”. Ou, independente do time: “Marina! Um novo jeito de fazer política! Um novo jeito de fazer campanha!

Caso os anunciantes queiram ir além das Perdizes, tenho quatro primos com condições de cobrir as regiões de Pinheiros, Santa Cecília, Higienópolis e Mandaqui, e um tio avô aposentado em Botafogo, Rio de Janeiro, cuja janela dá para uma faculdade particular. Aguardo contatos.

Este texto é dedicado ao meu irmão, usuário do "Windows Media Player" e que durante a Copa de 2002 chegou a gritar "chupa Inglês F@D%*P" para uma rua do Brasil, repleta de brasileiros.